segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

uma espécie de vladimir ou estragon

aniversário.
um dia comum. normal.
os pedestres que tiverem de ser atropelados, bem, serão. os sinais que te fazem lembrar de alguém poderão aparecer. você terá uma rotina pra cumprir, um caminho a perfazer.

não é uma queixa, mais pra uma ponderação.
sabemos da bobagem que essas datas fazem conosco, criam a necessidade de nos sentirmos especiais nesta data querida, uma vez que somos meros mortais dispersos entre sinais de wi-fi, fuligem e outros seres igualmente mortais.

todos lembram de você nas redes sociais, é uma gentileza, sério. há pessoas que nunca vi pessoalmente, mas que mantém a política de dar parabéns pelo face. justo. justíssimo. amigos distantes, no tempo e no espaço, dão aquele parabéns bacana de sempre. justo.

não me sinto especial no dia do meu aniversário. sei que é um dia absolutamente normal, que ninguém entrará por essa porta com um bolo, uma coca e um parabéns. nada disso acontecerá. os pedestres, inclusive, continuam sendo atropelados. ciclistas também.

daqui a pouco vou pro judô, lá direi, assim como quem não quer nada, que é meu aniversário, ouvirei parabéns, etc.

nada acontece no dia do meu aniversário. as pessoas relatam casos de surpresas, encontro inesperados, fatos coincidentes, até gentilezas na fila do caixa no dia de seus aniversários. no meu aniversário, eu costumo ficar muito pianinho...vai que descobrem as poucas felicidades que tenho...vai que, descobrindo a fragilidade em que essas datas nos deixam, acabam rastreando um ponto fraco e tirando sarro...

nada disso precisa acontecer também. até as expectativas frustradas do seu aniversário podem ser frustrantes. no fundo, no fundo, não sou o maior dos simpatizantes com datas. simples, pelo simples fato de que elas prometem uma recompensa que nunca compensa o dano que a tensão causa.

me sinto assim uma espécie de vladimir ou até estragon, inertes, esperando algo acontecer, alguém vir, até vem, mas não vem na hora boa, naquela crescente interna. frustração.
vladimir e estragon ficaram lá esperando godot, que nunca foi, mas mandou um menino de recados.
não faça o mesmo, diria a você.






quinta-feira, 29 de agosto de 2013

sempre achei o ônibus uma espécie de metáfora ordinária do universo humano.
todos fechadinhos, mas ao mesmo tempo, próximos uns dos outros.
todos sendo direcionados por uma mesma força, mas saltando em posições diferentes, às vezes iguais.
de onde você pode olhar o mundo, passar por ele e de onde todo mundo pode te ver passando pela vida.

terça-feira, 6 de agosto de 2013

é dificil esse caminho ai, vai.
me pego a radicalizar as questões quando sinto que o diálogo falhou e só há amontoado de informações, sentimentos  negativos despertados e acumulados, tralha que não opera mais nenhum encontro.
dai pra frente é um caminho verticalmente fadado ao fracasso.
radicalizo e me permita fazê-lo.
você não pode pisar, não interessa onde, mas não pode, e simplesmente achar que não há um retorno.
há.

a questão não é mais, e nunca foi, se ou quem está certo/errado, mas a capacidade de magoar transformada em ato, de forma judiosa, ignorando o que está ao redor.
se você ativa esse estratagema, bem, você pôs em atividade todo um sistema que funciona independentemente de sua vontade a partir de agora.

agora é aguentar (ou não, sabia...) o retorno. porque tudo retorna.
nem certo, nem errado. bônus e ônus.
e isso sem que você note.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

funciona assim.

você se decepciona com todo o mundo.
dai pra diante só é possivel acreditar na filha-da-putice de um ou naquela única pessoa que é diferente de todos as demais.
ambas vão te ferir.
eu vou ser legal, atencioso, gentil e me importarei nesse momento dificil.
mas, jamais, jamais serei uma opção. precisamos de alguém que nos trinque por dentro.

e quando finalmente for eu, dai alguma sutileza, daquelas que transforma o olho em olhar, terá se quebrado. eu não ligarei mais pra você e o tempo terá passado, como o tempo das mangas, dos cajús passam.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

não gosto que me perguntem como estou e prefiro amigos silenciosos, daqueles que preferem a vida que existe em mim do que aquilo que de mim existe na vida.

falo por silêncios, e tenho pavor de ter que falar muito para dizer bem pouco só. prezo muito a distância, aquela que me faz aproximar, aquela que nos aproxima.

esqueça seu guarda-chuva e venha correr comigo.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

eu vou me decepcionar e isso já é certo.
seu sorriso virá incerto, seu coração
antes aberto, agora empacotado
num papel de presente reusado.

tudo por um sorriso,
que amanhã vira dor, dor de juízo.

domingo, 20 de janeiro de 2013

me movimento por projetos. fitar um ovo não teria sentido se não fosse parte de um processo maior, fritá-lo então...

agora, quase aos trinta, me considero um daqueles seres letárgicos, que só acordam, movimentam, diante de uma situação realmente impactante e necessária, e de um bote só resolvem a parada.
passo muito tempo gestando um projeto e gasto as energias pra botá-lo em prática. isso me gera uma certa dificuldade de assimilar, não de enxergar, certas movimentações ao meu redor, pois estou eu lá,
 tomado pelo meu projeto, olhos vidrados na gota que cai, esperando que ela se torne, um dia, estalactite.

um projeto não precisa durar, precisa começar, acontecer e dar tchau, e, mais ainda, um projeto está ancorado na ideia de que uma série de processos irão desaguar numa consequência maior, inesperada, mesmo que calculada. o projeto finda, os espólios de guerra, não.

passo tempos gestando, alimentando certas ideias, pareço não estar ligando, não ter sido afetado pelo expediente das necessidades mais comezinhas da vida, mas estou gestando.
depois disso, invisto cada centavo de energia em um projeto. por isso prefiro caminhar sozinho, quem se aproxima acaba não entendendo, me cansa explicar o quanto me frustra  não vê-lo dar certo.

um projeto pode levar às vezes um dia pra ser concretizado, mas uns bons 365 dias ou graus pra ser visualizado, criado, diria. nada nasce ao acaso, mas do acaso. um projeto não pode se fechar em metas, procedimentos, um plano exige o entendimento de que algum passo precisa ser dado. é um avanço.

um projeto funciona como um raio-x das coisas. revela fios invisíveis, possibilidades de agir, mas revela um mundo que acontece à minha revelia. não há controle.

'quem me vê sempre parado, distante, garante que eu não sei sambar, tô me guardando pra quando o carnaval chegar' (chico buarque)