segunda-feira, 28 de junho de 2010

todas as canções são uma canção só
repartida em cerca de mil pedaços
plantados aqui e ali, no tempo e espaço
remendados aos bocados e nunca sós.

sábado, 26 de junho de 2010

foto.

movimento sem voz.
voz sem gesto.

rede sem balanço.

mais que um artifício
um descanso.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

quem disse que duas pessoas pretensamente plenas se esbarram na fila do metrô e assim o amor começa?

o amor mesmo já começou bem antes que se esbarrem duas pessoas pretensamente plenas no metrô.

calçando o tênis, na tentativa de resolver toda a vida numa fina equação de inspiração e expiração;
no ato de guardar delicadamente a chave no bolso secreto, aquele menor e mais seguro, sorrindo só;
levantando no meio da noite para enroscar a tampa da pasta de dente esquecida sobre a pia, creia,
o amor já comecou.

o amor
mais fino e mais leve que a areia do deserto
nunca nos abandona.
-Aí está o problema dos grandes livros e grandes amores...dão muito trabalho!

(...)

domingo, 20 de junho de 2010

não sei como fazer com as minhas lembranças.

se me vejo às voltas com chaves e documentos,
tantos esquecidos, perdidos, caídos de meus bolsos sempre tão seguros,
que dizer da minha memória, saco sem fundo
no qual às vezes também me vejo às voltas
tentando recuperar um rosto, um pano de fundo,
uma cena que eu perdi.

não sei o que fazer com as minhas lembranças,
sei apenas o que elas fazem comigo.

sábado, 19 de junho de 2010

passo calado um breve minuto.

é curioso notar-se calado,
uma função para a qual
parece que não fomos feitos.

uma máquina de café
com sérios defeitos.

é curioso, notar-se calado
delata um frágil segredo
para o qual não há refúgio.

a não ser ficar calado.
um olhar de encanto nunca foi a síntese de mil palavras encantadas.

[idéia sugerida por liana, uma pertinente e empolgante interlocutora]

quinta-feira, 17 de junho de 2010

...e que a beleza seja apenas a ponta do iceberg.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

acabo de constatar.
às vezes, quando escrevo, esqueco de respirar.
respiro tudo no fim.
hum! vitória boa essa de não se ganhar.

a quem entender possa.
quando me proponho a escrever é como se, numa conferência toda pessoal, aparecessem enfileirados todos os romancistas, poetas, músicos, filósofos, críticos, amigos, amigos-críticos (rs) numa disposição onírica.
e todos me olham e esse olhar é todo cobrança. fico intrigado e demoro a escrever, a pensar em escrever.

de repente acordo para a idéia de que tudo isso é uma bobagem. não escrevo pra eles, escrevo com eles, mas escrevo pra mim. gosto de pensar então que escrever é grafar, riscar, desenhar, diagramar uma centena de idéias que dizem outras idéias quando juntas. só assim relaxo, faço café e escrevo sem culpa, sem medo. culpa de não estar à altura, medo de falar bobagem.

no fundo sei que não escrevo bobagens completas, pois repasso meus textos para amigos-críticos lerem, me ponho aberto a sugestões, questiono, assimilo e adapto as que me interessam. me leio, releio e no fundo não escrevo tanta bobagem assim. por essas e outras gosto de pensar que escrevo como quem escreve pela primeira vez.

e vocês sabem, a primeira vez é sempre sem medo, sem culpa.

é esse clima aí, malandro!
grave isso:
a greve é de longe
uma coisa grave.
"(...) a coerência na contradição exprime a força de um desejo"
(J. Derrida, p. 230 in: escritura e diferença)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

"Nous perdons un temps précieux sur une piste absurde et nous passons sans le soupçonner à côte du vrai"
[Perdemos um tempo precioso seguindo uma pista absurda e passamos\ao lado da verdade sem suspeitá-la]
Proust, ed. Pléiade, III, p. 100

colhido em "Seis proposta para o novo milênio", de Italo Calvino.

sábado, 5 de junho de 2010

não estou mais em condições
de me ver chamando tristeza de meu louro.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

-de onde você tira a sua sensibilidade?

-lá de onde você a põe.
você sabe, eu estou por aí
me fingindo de morto
mas é só pra melhor passar.

pois quando tudo isso passa
eu enfim me reencontro.
você sabe, eu estou por aí

me fingindo de morto.
também sei ficar e ir por aí
mas é só pra melhor passar.

pois quando tudo isso passa
eu posso me reencontrar
mais vivo que morto.

[dedico aos meus amigos que estão no limite, envolvidos, absorvidos, planejando em silêncio seus planos mirabolantes de amor, poesia, música, vida estável. ver um amigo, e tudo aquilo que ele defende, triunfar é um prazer extremo. durmo em aconchego. é no limite que a gente se acha]

gxis revido, miaj amikoj!

quinta-feira, 3 de junho de 2010

por falta de passo não se dança.
por falta de companhia também.