sexta-feira, 28 de outubro de 2011

estive na presença de uma dessas sumidades nos campos da lingua portuguesa e da literatura daqui da minha cidade (ipu) e constatei aquilo que já era pra eu saber de cor:

poema bom é poema grande.
livro de poema tem que estar entupido de texto, não pode haver espaço em branco.
e sempre soneto-eto-eto.

me (sic) permitam algumas réplicas:

particularmente odeio poema grande, mas algunas deles me impressionam pela força poética se impondo sobre uma linha espacial e temporal longa, resumindo...pô, o poema é grande pra cacete, mas assim mesmo é bom! cito um: tabacaria, de fernando pessoa. dez páginas de um lirismo bruto.
não me venham com ilíada, porque, pros gregos, isso não era poesia. poesia pra eles não o mesmo que é pra gente.
gosto quando italo calvino diz que anseia por um poema que conte a história do mundo em um verso.

há essa despreocupação dos poetas em trabalhar a folha, o branco da página. muitos crêem (esse acento caiu?) que poeta mesmo, aquele dos bons, trabalha só a letra, a frase, o desenho do poema no papel. nem me venham com essa de que isso é papo de modernista e  que não cola. o barroco tinha essa preocupação, se você notar bem até o cordel também.
claro, o modernismo teorizou a questão e trouxe a pergunta: mas o poeta não seria responsável também pelos vazios, os brancos do que escreve?mallarmé que o diga...
em miúdos, se entupo meu livro de poemas, e essa é uma opinião pessoal, eu corro o risco de que meu leitor tenha em mãos um farto peso de papéis. duvido que um leitor-não-escritor se deterá em ler, nem que seja por curiosidade das mais banais, mas não indispensáveis, e sem a pressão da presença do autor no lançamento, um livro de poesia que mais parece prosa. é tanta poesia que dá azia.
cada poema sugere um mundo, se o livro está entupido de mundos sugeridos, a probabilidade de causar pane no leitor-não-escritor, é quase certa.
mas, claro, um leitor-escritor qualquer talvez se impressione pelo calhamaço em mãos, pela quantidade de poesia (é tanta poesia...), pela erudição desfilada sem um pingo de auto-ironia, enfim, pela poesia que vence pelo emudecimento. titio leminski que me acode sempre, poesia é um efeito mental.
e acrescento, prosa é texto corrido, poesia é texto correndo.

por fim, soneto-eto-eto. nada contra. há quem faça muito bem. gosto do bandeira, drummond não.
aliás, o soneto marca o espaço da folha de um só jeito. o olho cansa de ver soneto, ainda mais se for o inglês que é o mais comum.
há quem não consiga escrever nada fora do soneto. aliás, há dois tipos bem comuns de sonetistas, aquele que não tem domínio algum da lingua, mas aprendeu que poema se escreve em soneto.
e há aquele que tem um domínio exemplar da lingua, um conhecimento erudito da forma como ela se dá, e escreve soneto porque não consegue lidar com a idéia ritmo desprendida da métrica e rima.

o ritmo é a energia poética que os gregos (sabe os gregos de que tanto falam os eruditos que escrevem sonetos?) já tanto falavam e os modernistas levaram ao extremo, que propunham dinamite nas formas e adubo no ritmo.
não se confunda aqui ritmo com musicalidade. tanto sonetos quanto outras formas (redondilhas, versos heróicos...) quanto formas abertas (versos brancos) podem ser mui melódicos.

hoje me senti o menino que tenta justificar seus versos perante um velho lobo do mar experiente que folheia o livro do iniciante com desdém clássico.
aprendi uma coisa hoje.
com a experiência só há uma saída, é o olhar atento, mas a antena ligada.

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

regressos nem sempre são tão bons quanto os que temos em mente.
achamos, via de regra, que nossa saudade avassaladora de pessoas, lugares e sentimentos irá, feito um ciclope, contagiar todos, e que todos compartilham da mesmíssima saudade.

regressar pode ser, via de regra, sentir o peso das relações, o efeito, também,  que o tempo exerceu nelas.

regressar é ativar o comando 'confusão' e bagunçar todo o sistema.

eu, particularmente, considero isso bom. me faz lembrar o peso que as coisas têm. me faz lembrar, inclusive, que, pelo mesmíssimo peso, não dá pra carregar tudo de uma só vez.

tenho sido um pouco menos estapafúrdio nas minhas escolhas. e foi só regressando que percebi os imensos vacilos que cometi, as tremendas vaciladas em que me meti.

basta que você mergulhe pro açude ficar turvo.
tempos depois tudo decanta.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

resposta ao post de deise anne rodrigues:

gostei da metáfora do email,rs.
soou bem pra mim.

não tenho enviado muitos emails, até começo a redigir um ou outro, mas, no meio do caminho, penso mesmo nessa coisa de que mandar email dispende muita energia e não sei com qual disposição a pessoa pretende ler.
corre o grande perigo de, ao fim, me (sic) sentir desgastado e desgostoso.

ocorre que um certo excesso de frustração me tornou um tanto quanto receoso e cínico, às vezes, pois me incomodo de gastar energia com uma pessoa (ou antes, a possibilidade de), mas não me incomodo que gastem comigo. uma cara-de-pau a minha...

verdade seja dita, ou tenho chegado muito adiantado ou atrasado demais pra missa.
sabe quando você encontra alguém legal, com quem você realmente toparia dividir de um tudo, mas daí o evento ocorre antes demais ou depois demais do que era pra ocorrer.

essa discronia me acompanha por um bom tempo.
praguejo pouco porque sei que amor só nasce tarde. 

[amor pra poucos, pro escolhido.
amor que todo mundo quer, mas só um recebe]
...

é esse o clima!

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

sempre aparece alguém pra dizer 'calma, não leve tudo tão a sério' quando você decide ficar atento e combativo.
sempre aparece alguém pra dizer 'acorda, o mundo não é um conto de fadas como você pensa' quando você decidiu ter calma e não levar tudo tão a sério...
campanha é algo que você faz mas que te exige uma postura ética em contrapartida.
ver o face lotado de perfis com foto de desenhos animados não exigiu de ninguém uma contrapartida ética, a meu ver.
a não ser que isso seja o que nos sobra em termos éticos...mudarmos fotos e darmos 'like' no face.
 
é como digo, a internet é o jeito clean de se viver, ela finge que atrito é apenas uma propriedade da física, e, como tal, não deve ser levada muito a sério. 
a ideia inicial não era ser saudosista, era empreender uma campanha contra a violência infantil, certo? se queríamos uma oportunidade de sermos saudosistas, então porque não foi lançada a campanha 'dia das crianças! libere a que existe em vc colocando uma foto de um desenho animado no seu perfil do face'...nessa eu teria entrado, a pretensão dela é bem clara, ser saudosista, relembrar a infância e só.
claro, fui criticado a rodo por tal postura, a qual continuo a sustentar. há um imenso buraco intransponível entre as falas e as práticas, mas é de bom-tom não trazer isso à mesa. 
sabe do que mais, concordo.

se eu estivesse no lugar de quem pôs uma foto de desenho animado no perfil do face, também não queria ser hostilizado por um qualquer, um chato que vem encher o saco por causa de uma coisa tão boba. 
porque nós somos pós-pós-modernos* e sabíamos que era uma campanha contra a violência infantil, mas que no meio do caminho, por um motivo que não saebmos explicar ao certo, mas que nos parece terno, acabamos postando tais fotos de desenhos animados para relembrar nossa infância, é isso.
daí vem um chato de meia-tijela vem criticar uma coisa tão simples.
retiro tudo o que disse, certos estão vocês e o problema deve ser realmente comigo.
é esse o clima...
*boa parte dos alunos da letras (ufrj) e de outras instituições reagem de forma bastante parecida quando perguntados sobre o que quer dizer pós-moderno: silêncio, gagueira, sinais faciais levemente aborrecidos (pois trata-se de um pecado perguntar o que é o pós-moderno), e uma pasmaceira em forma de discurso. cá entre nós, mais da metade dos estudantes que se valem dos pós-modernos assim o fazem com e por total ignorância do tema. pós moderno é questionar sempre os pressupostos, bebê.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

numa rede, bebendo vinho.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

energia acumulada
que hoje foi expulsa
numa roda de capoeira
dentro de uma sala suja
uma alma lavada.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

confissão de um autor.

reli meu livro.
juro que já nem sei muito bem o que pensar dele.
o todo ainda me agrada.
mas, um autor que relê a si em detrimento dos outros a quem admira, é como se trouxesse um peso danado às costas.
nada basta, nada chega.
é uma inquietação com a qual não sei lidar e desconfio que saber lidar muito bem com ela é quase como ignorar a força mesmo da questão.
é um desconforto que se traduz em ação, é um pra fora sempre.
um autor que não transforma sua inabilidade frente às questões em uma bunda canastra é um fanfarrão (aquele que alardeia uma coragem que não tem).
e é preciso bastante coragem pra transformar sua inabilidade em golpe marcial.
é com esse que eu vou.

reli meu livro e ele me parece um estranho que chegou chegando e com o qual você tem que se acostumar.
prazer.