terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

algumas pessoas não lidam bem com as diferenças.
na verdade, há uma grande parcela dessas mesmas pessoas que discursam a todo momento 'viva a diferença', mas seu entendimento dessa colocação é bem superficial.
o que vem a ser a noção de 'diferença'?
aconselho cuidado ao empregar essa noção pela ruas, vc pode estar se tornando exatamente aquele que tanto combate: o intolerante.
o intolerante não aceita as diferenças, a coexistência de diferentes formas de pensar e sentir. pro intolerante, bom mesmo é quem se parece com ele, segue seu programa, acompanha seus passos, o outro só é bacana se ele se parece comigo, com meu círculo...onde está o 'viva a diferença'?
as pessoas costumaam achar que intolerantes apenas se personificam na figura do branco/hetero/rico.
seria mt bom se fosse assim, pq seria facil identificarmos os intolerantes, mas não, a vida é mais complicada que isso...
usualmente o público gay usa e abusa do discurso do 'viva a diferença', mas na suprema maioria das vezes eles confundem 'viva...' com uma revanche contra todos aqueles sujeitos sociais que lhe causaram dor.
se vc quer sustentar uma postura de revanche, é uma questão sua...mas saiba, isso não tem nada de viva a diferença.
viver a diferença, deixar a diferença viver é trabalhar a si mesmo de modo a afrouxar seu julgamento social em relação ao outro.derrida falava mt sobre a hospitalidade, que é mt superior à tolerância. hospitalidade é abrir sua casa, é oferecer, pra mais tarde te ofertarem...
a intolerância se manifesta de mil formas, não é privilegio de brancos/héteros/ricos. cor de pele, orientação sexual ou classe não livra absolutamente ngm da intolerância.
'viva a diferença' é a mais pura hospitalidade, e só com hospitalidade podemos ouvir o outro, aceitar o outro, e simultaneamente estar sendo ouvido, estar sendo aceito pelo outro.
não é um discurso simples, não é uma prática simples, pois instintivamente achamos ser necessário nos apegarmos com mt fervor às nossas crenças particulares, aquelas que nos dotam de identidade social. a mais difundida dessas crenças é a idéia de identidade. para ser eu mesmo, tenho que ser eu em detrimento de vc, tenho que forçar minhas caracteristicas sobre você e afirmá-las.
esse é o discurso da identidade, o de uma força aplicada ao outro no intuito de mostrar quem sou eu. esse é um discurso perigoso, é o discurso do 'viva a unidade'. sair dele é uma tarefa que deve envolver  um tempo incontável.
viver a diferença á aceitar inclusive que esse meu discurso possa estar errado, possa não sobreviver ao exame de algum leitor astuto.é possivel...mas se vc puder aceitar que esse é o 'meu' discurso, terei prazer em ouvir o 'seu' discurso, e no que isso resulta?

que nós perderemos a vida toda conversando, uma conversa infinita...dai vc escolhe se prefere passar uma vida toda dialogando ou afirmando sua superioridade em detrimento das fraquezas do outro.

saudações universais.

2 comentários:

Elane A. disse...

Curiosamente a Aliança Francesa usa esse slogan: "viva a diferença". Rs. A publicidade é cruel. Bom, gosto da palavra programa neste sentido que você coloca. Lembra o que Flusser fala sobre o "programa" nos tornar "funcionário" dele, ao não conseguirmos superá-lo e sair dele. Sinto que os comportamentos de "diferença" hoje saem de fábrica e somos impelidos a escolher esse ou aquele. Ou seja, são apenas "unidades" sob o rótulo da "diferença". Enfim, viajei! Rs.

Sra Ivana disse...

Passei para ver como andava o blog e dei de cara com esse texto maravilhoso.:)