segunda-feira, 30 de julho de 2012

a coisa mais besta que tem é a gente achar, botar fé calculada em cima das coisas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

a ideia de abancar-se numa escrivaninha, mesa, seja lá o que for, para escrever, compor, trabalhar uma ideia é algo que me deixa inquieto.

no início eu fazia tudo direitinho, como alguns escritores famosos faziam, café aqui, papel, caneta, lápis, borracha, à vezes uma bebidinha espirituosa, tentei cigarro também...
guardava meus escritos de forma religiosamente desorganizada. soltos embaixo da cama, na mesa, no guardarroupa, mochila.
vieram o computador e os colegas que escreviam suas coisas diretamente nos editores de textos, e esses me diziam:

- é muito melhor.

de fato, é. há particularidades e há uma incrível sensação de 'efeito de publicação'. você consegue enxergar seu texto 'como se' ele estivesse sendo visto pelos outros. e isso traz uma coisa a mais para o processo. imprimir um texto seu é como vê-lo concretizado. a noção é boba, mas indesviável.

mas não vim falar disso. vim falar desse processo de escrita, de criação. certa vez disse que gosto de compor nos interstícios do dia.
no ônibus [uso celular e gravador, às vezes], fazendo o percurso de volta pra casa a pé, no almoço, vendo jogo de futebol ou filmes no 'mute' na tv.

sentado no chão, deitado no sofá da sala-de-estar enquanto as pessoas passam. tomando café, de preferência.
olho para minha escrivaninha, nem sequer leio mais abancado a ela. leio deitado na cama, no ônibus, etc.

parar para fazer algo tem sido torturante pra mim. gosto de compor sem notar que estou compondo. por isso prefiro esses instantes fugidios, nos quais não impera a prerrogativa: estou compondo.

mas, por meio dessa, venho reconhecer que também se faz necessário um momento para debruçar-se sobre seus trabalhos. olhar calmamente e até inquisitoramente para o monte de pedações, remendos, fios e conversar com eles.

confesso que não tenho tido tempo pra isso. venho compondo pedações de bifes que ainda não podem ser servidos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

vira e mexe retornamos aos velhos sonhos.

a graça da coisa reside no fato de o sonho tornar-se realmente antigo, temporariamente esquecido.
dai então outros aparecem, inserem-se em nossas 'brand new lists' como sonhos adaptados à uma nova realidade.
mas esse são sonhos postiços, necessários, mas postiços, não aguentam o peso do tempo e logo, logo, quando a nova vida aperta, quando as novas realidades se mostram, eles cedem gentilmente seu lugar.

sonho bom é aquele que vai maturando dentro da gaveta, dentro de um envelope, dentro. dai ele ressurge e sua vida adquire um brilho maior, ocorre a sensação de encontrar-se dentro de uma missão de primeiro porte, secreta, importantíssima, e que revela segredos da humanidade.

voltar a sonhar os velhos sonhos é o último recurso dentro de uma sociedade que te ensina apenas a caminhar para frente. ninguém te ensina o quanto é saudável recuperar sonhos passados. pois, se você ainda não percebeu, agindo assim você estaria também revivendo cenas passadas, trazendo à tona sensações passadas, criando fantasmas.

acho bastante dificil ensinar a alguém que é saudável esse processo íntimo e intransferível de reviver sonhos passados e tudo dentro. mas o certo é que se faz necessário um gole de teimosia para agir assim. não há uma utilidade em reviver esse antiquário. não é produtivo de forma alguma. quem suporta sofrimento sem produção? sem uma mais-valia ao final?

a vontade de rever velhos sonhos surge depois de lutar com uma série de monstros internos e fantasmas.

eu não sei quais são os seus [sonhos], é possível que eles estejam tão conectados uns aos outros que, para dar certo, eles precisem ocorrer em cadeia.

um sonho antigo tornado presente é algo de uma fineza, um luxo, um requinte que vai além de tudo o que supostamente poderíamos ansiar.

e nenhum sonho é solitário.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

amor, paixão, essas coisas frívolas nos deixam muito criativos. assim como um café te deixa acordado, um chá te acalma, uma droga te excita e outra te expande em calmas ondas.

temporariamente.

tão logo o efeito passe e sobrevém uma concreta noção de um vazio te corroendo por dentro. alguns chamam de ressaca, larica, bad trip, angústia, falta, carência. o fato é que o corpo manifesta uma espécie de necessidade de mais, mais, mais.

lendo assim, bem por cima, sim, eu estaria comparando amor, paixão a certas drogas, até porque qualquer texto que você chame de seu diz muitas coisas à sua revelia,  mas careço da sua sede por perspectivas pra me fazer entender, se não melhor, pelo menos mais organicamente.

claro. algumas filosofias orientais, quase todas dentre as mais conhecidas, pregam esse princípio muito aparentado da roda de sansara. essa ideia de que tudo é saciedade e nada mais. você tem fome hoje e sempre terá porque é normal dos seres vivos terem-na. e isso nunca acaba. não é você quem decide se isso vai acabar, nem quando. você não é sujeito aqui, você está sujeito. e a vida virs isso, a eterna tentativa de saciar-se.

[quando tomados por amor, manifestamos uma incrível capacidade na manipulação da linguagem. não é que passemos a falar de forma mais elegante, ou mais requintada [falo de adornos que também fazem parte desse jogo...]. o amor nos faz entender de forma mais profunda o que é comunicar. quantas torções temporais, jogos culturais, relações inusitadas, simbologias mágicas não conseguimos criar quando estamos tomados...

todo amante é um linguista nato e inconsciente. ele se torna senhor da lingua que usa. imperador da linguagem. deus da comunicação. diria melhor, ele pode se tornar um, pois muitas vezes o amor nos embarga a fala, nos enclausura os afetos, fechando a possibilidade de ascenção, de sensação.

o amante diz, pensa, ou lida, ao menos, com essa pressuposição, de que às vezes não há palavras pra expressar tudo aquilo que...]

o amor nos torna, com igual paixão, políticos e apolíticos. tenebrosamente sensíveis ou ridiculamente insensíveis. insossos.

alguns ficam mais inteligentes e charmosos, outros têm sua identidade comida, seu cpf invalidado por se sujeitarem a todo tipo de invasão, sacrifícios, violências porque o amor é maior que tudo isso. ouço.

alguns fizeram do amor um mastro, uma bandeira. fincaram-na em terra firme e estão numa suspeita posição de quem joga cartas, porque é uma questão de sorte. presencio.

sábado, 7 de julho de 2012


muitas coisas não são simples de serem explicadas. creio que algumas nem são passíveis de. mas a coisa pode se dar no contexto da exemplificação, que é diferente de dar exemplos.
sabe quando a distancia entre teoria e prática, vida e poesia encurta tanto que podemos até ver a união fantasmagórica [pois nos assustamos com tal união...] e senti-la em uma pessoa?

o nome disse deve ser virtude. poderia ter dito, viver segundo suas crenças. mas não sei se é bem isso, pois virtuoso não me parece ser alguém certinho. virtude me parece mais uma visão ampla dentro de uma atitude precisa. é como se o virtuoso captasse uma energia vitalíssima e exemplificasse com uma atitude. isso é muito raro.

tenho conhecido e convivido com pessoas novas.
dois movimentos básicos acontecem nesse instante. ou uma intensa troca de experiências e afinidades em comum, ou uma diferença acachapante!
venho curtindo cada centímetro cúbico da vida quando passei a deixar as coisas acontecerem, não apenas na suposta realidade, mas dentro de mim.
gosto de relembrar sozinho certas conversas que tive, por mais traumáticas que elas sejam. tento reencená-las de forma a sentir e -re-sentir algo de prazer e dor nelas.
não sei se me torno um ser humano melhor, mas honestamente sinto que estou me movendo dentro de alguma ideia de experiência.

tenho conhecido pessoas assim. inteligentes, convincentes, mas com quem não compartilho quase nada do que dividimos. já me convenci e a cada dia mais um pouco que nunca estamos  discutindo coisas, mas apenas perspectivas. digo apenas, mas acho incrivel quando duas pessoas percebem isso claramente num diálogo.
é impressionante quando duas pessoas efetuam essa percepção em um diálogo. é como se o mundo expandisse um tiquinho.
confesso minha inépcia [gosto dessa palavra errada...] quanto a discutir com quem não consegue perceber que, ao final, tratamos de perspectivas e não uma coisa.
tenho receio de pessoas pragmáticas e práticas. tenho muito medo de pessoas que tratam qualquer teoria ou abstração como malandragem acadêmica para se dar bem numa conversa inteligente, ou como uma forma sacana de ludibriar outrem.

não me interessa se a maioria dos outros usam a incrível liberdade que a abstração e teorização podem oferecer como algo malévolo ou sacana. eu não quero te convencer, quero conversar. conversa infinita, diria blanchot.
um parágrado do livro 'cartão-postal- do derrida vale por quase todo o livro. lá ele diz que um bom leitor não lê um livro, mas se deixa ser lido por ele. a tempo, não há passividade nenhuma nisso.

penso o mesmo de uma boa conversa. mas, pensando bem, quem está ligando pra uma boa conversa quando há, latentemente, o medo de ser pego com as calças na mão, não é mesmo?