segunda-feira, 9 de julho de 2012

amor, paixão, essas coisas frívolas nos deixam muito criativos. assim como um café te deixa acordado, um chá te acalma, uma droga te excita e outra te expande em calmas ondas.

temporariamente.

tão logo o efeito passe e sobrevém uma concreta noção de um vazio te corroendo por dentro. alguns chamam de ressaca, larica, bad trip, angústia, falta, carência. o fato é que o corpo manifesta uma espécie de necessidade de mais, mais, mais.

lendo assim, bem por cima, sim, eu estaria comparando amor, paixão a certas drogas, até porque qualquer texto que você chame de seu diz muitas coisas à sua revelia,  mas careço da sua sede por perspectivas pra me fazer entender, se não melhor, pelo menos mais organicamente.

claro. algumas filosofias orientais, quase todas dentre as mais conhecidas, pregam esse princípio muito aparentado da roda de sansara. essa ideia de que tudo é saciedade e nada mais. você tem fome hoje e sempre terá porque é normal dos seres vivos terem-na. e isso nunca acaba. não é você quem decide se isso vai acabar, nem quando. você não é sujeito aqui, você está sujeito. e a vida virs isso, a eterna tentativa de saciar-se.

[quando tomados por amor, manifestamos uma incrível capacidade na manipulação da linguagem. não é que passemos a falar de forma mais elegante, ou mais requintada [falo de adornos que também fazem parte desse jogo...]. o amor nos faz entender de forma mais profunda o que é comunicar. quantas torções temporais, jogos culturais, relações inusitadas, simbologias mágicas não conseguimos criar quando estamos tomados...

todo amante é um linguista nato e inconsciente. ele se torna senhor da lingua que usa. imperador da linguagem. deus da comunicação. diria melhor, ele pode se tornar um, pois muitas vezes o amor nos embarga a fala, nos enclausura os afetos, fechando a possibilidade de ascenção, de sensação.

o amante diz, pensa, ou lida, ao menos, com essa pressuposição, de que às vezes não há palavras pra expressar tudo aquilo que...]

o amor nos torna, com igual paixão, políticos e apolíticos. tenebrosamente sensíveis ou ridiculamente insensíveis. insossos.

alguns ficam mais inteligentes e charmosos, outros têm sua identidade comida, seu cpf invalidado por se sujeitarem a todo tipo de invasão, sacrifícios, violências porque o amor é maior que tudo isso. ouço.

alguns fizeram do amor um mastro, uma bandeira. fincaram-na em terra firme e estão numa suspeita posição de quem joga cartas, porque é uma questão de sorte. presencio.

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