estive na presença de uma dessas sumidades nos campos da lingua portuguesa e da literatura daqui da minha cidade (ipu) e constatei aquilo que já era pra eu saber de cor:
poema bom é poema grande.
livro de poema tem que estar entupido de texto, não pode haver espaço em branco.
e sempre soneto-eto-eto.
me (sic) permitam algumas réplicas:
particularmente odeio poema grande, mas algunas deles me impressionam pela força poética se impondo sobre uma linha espacial e temporal longa, resumindo...pô, o poema é grande pra cacete, mas assim mesmo é bom! cito um: tabacaria, de fernando pessoa. dez páginas de um lirismo bruto.
não me venham com ilíada, porque, pros gregos, isso não era poesia. poesia pra eles não o mesmo que é pra gente.
gosto quando italo calvino diz que anseia por um poema que conte a história do mundo em um verso.
há essa despreocupação dos poetas em trabalhar a folha, o branco da página. muitos crêem (esse acento caiu?) que poeta mesmo, aquele dos bons, trabalha só a letra, a frase, o desenho do poema no papel. nem me venham com essa de que isso é papo de modernista e que não cola. o barroco tinha essa preocupação, se você notar bem até o cordel também.
claro, o modernismo teorizou a questão e trouxe a pergunta: mas o poeta não seria responsável também pelos vazios, os brancos do que escreve?mallarmé que o diga...
em miúdos, se entupo meu livro de poemas, e essa é uma opinião pessoal, eu corro o risco de que meu leitor tenha em mãos um farto peso de papéis. duvido que um leitor-não-escritor se deterá em ler, nem que seja por curiosidade das mais banais, mas não indispensáveis, e sem a pressão da presença do autor no lançamento, um livro de poesia que mais parece prosa. é tanta poesia que dá azia.
cada poema sugere um mundo, se o livro está entupido de mundos sugeridos, a probabilidade de causar pane no leitor-não-escritor, é quase certa.
mas, claro, um leitor-escritor qualquer talvez se impressione pelo calhamaço em mãos, pela quantidade de poesia (é tanta poesia...), pela erudição desfilada sem um pingo de auto-ironia, enfim, pela poesia que vence pelo emudecimento. titio leminski que me acode sempre, poesia é um efeito mental.
e acrescento, prosa é texto corrido, poesia é texto correndo.
por fim, soneto-eto-eto. nada contra. há quem faça muito bem. gosto do bandeira, drummond não.
aliás, o soneto marca o espaço da folha de um só jeito. o olho cansa de ver soneto, ainda mais se for o inglês que é o mais comum.
há quem não consiga escrever nada fora do soneto. aliás, há dois tipos bem comuns de sonetistas, aquele que não tem domínio algum da lingua, mas aprendeu que poema se escreve em soneto.
e há aquele que tem um domínio exemplar da lingua, um conhecimento erudito da forma como ela se dá, e escreve soneto porque não consegue lidar com a idéia ritmo desprendida da métrica e rima.
o ritmo é a energia poética que os gregos (sabe os gregos de que tanto falam os eruditos que escrevem sonetos?) já tanto falavam e os modernistas levaram ao extremo, que propunham dinamite nas formas e adubo no ritmo.
não se confunda aqui ritmo com musicalidade. tanto sonetos quanto outras formas (redondilhas, versos heróicos...) quanto formas abertas (versos brancos) podem ser mui melódicos.
hoje me senti o menino que tenta justificar seus versos perante um velho lobo do mar experiente que folheia o livro do iniciante com desdém clássico.
aprendi uma coisa hoje.
com a experiência só há uma saída, é o olhar atento, mas a antena ligada.
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
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3 comentários:
Deus me livre dessa prisão da forma... eu sou a favor da liberdade no texto e é a poesia que nos dá isso. na poesia eu posso, eu sou, eu vou. tamanho não é documento, já diz o povo.
huahuahua...é uma mentalidade literária que persiste e é chatinho de ver isso ocorrendo bem em sua frente, mas sem decepções.
:)
Poemas, sonetos, não-sonetos... Escrever poeticamente é que é o desafio.
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