quem trabalha com crítica literária na academia sabe disso.
o glamour que envolve a coisa do poeta, principalmente ele, é algo que as vanguardas já demoliram e deram outra cara no inicio do século XX.
os ismos mataram a facadas aquele poeta da lira e criaram outro, agitador e experimentador.
a geração de 60/70 deixou a barba crescer e não botou-a de molho. poesia panfletária, marginal, de agitação.
o glamour mesmo talvez não exista mais, mas há uma expectativa de antemão já detectada e controlada por parte das pessoas. e isso ainda faz do poeta o cara que diz algo que vale a pena ouvir, mas com ouvidos fingidamente desatentos.
eu cá penso na atividade da escrita de poesia como desentupir uma pia, tirar o pó dos móveis ou lavar a louça suja. como se não houvesse nela nada a mais do que aquilo que há.
me explico. a atividade da escrita de poesia faz com que o autor perceba o quanto pode ser ouvido, fato que faz com ele próprio perceba-se como autor, como alguém que tem algo a dizer porque há também a necessidade de escutar. seu auto-olhar começa a fetichizar a sua atividade, projetando sobre si um glamour que deve ser disfarçado.
um poeta só tem duas escolhas, assumir o glamour ou evitá-lo. como dizia mário de andrade, se o poeta mostra seus escritos é por vaidade, se não mostra também.
escrever poesia é como desentupir uma pia, tirar o pó dos móveis ou lavar a louça suja. é deixar as coisas funcionarem como funcionam, é a manutenção delas.
sábado, 25 de junho de 2011
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