sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

vez por outra acendemos certos fogos,
aposentamos velhos deuses e elegemos
novos que ocupem o espaço da escrivaninha;
para sentar conosco na cadeira da varanda;
entoar outro hino nem bem forjado
e encontrar auxilio que nao pese.

fogo que precisa ser aceso todo o dia;
brasa que precisa ser revirada agora
senao morre, e morrendo,
vira cinza na quarta-feira.

vez por outra renascem velhos fogos,
e reabilitamos os mais antigos deuses
para retomarem seus postos no sofa;
recolocarem suas maos em nosso peito;
sentirem nosso pulso indecifravel
e destronarem os mais novos deuses.

e tudo isso sem do nem piedade.




quinta-feira, 22 de novembro de 2012

o hábito faz o monge, no entanto,
são os monges que fazem seus hábitos

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

não sei o que vim procurar em são paulo. não sei por qual motivo vim até aqui.
mas o que quer que eu tenha vindo encontrar, encontrei.
é o que venho sentindo desde ontem do décimo terceiro andar de um edifício em jabaquara.
da janela vejo uma cidade acontecendo, lenta, de longe, saio nas ruas segurando um casaco que só tem função à noite. vejo ferreira gullar falar de seu espanto e da vanguarda nas artes plásticas.
saio feliz, mas contrariado também porque não era necessário  que ele lesse seus poemas.

minhas amigas que lá foram comigo discordam. acharam o máximo e disseram que eu tenho trauma com essa coisa do autor ter que falar. disse que não. é uma posição estética. o autor não precisa re-dizer o que ele já disse. mas é o protocolo. se o autor é poeta e vai lançar um livro, ele tem que ler. nunca fui forçado a ler um poema meu, nunca vivi uma situação que me traumatizasse nesse sentido. mas defendo que há uma discronia entre o autor e seu texto. não há encontro, há esbarrão. o sabor e a graça está no leitor, só nele.

há alguma calma feliz em são paulo. uma sensação de lonjura, mas sem desespero. não há cachorros, vizinhos que tentam furar o teto com pisadas marciais, não há a tentativa de revanche de todo o incômodo causado. não há retratação. não há a sensação de que a vida é muito mais do que isso, senão isso, esse tudão.

viro o ano sem uma casa, reunindo forças para reerguer, para reestruturar.

nunca me senti tão forte na hora da virada.

terça-feira, 6 de novembro de 2012


Deixando de lado o meu mal-estar comigo mesmo, eu perguntei 'in box'como ela ia, ia bem.
-E você?
Primeiro escrevi e logo depois pensei, mas eu não estou bem, por que dizer 'tudo bem, 'estou ótimo', 'estou na correria, mas estou bem'?
Pensei, meu deus, quem iria querer qualquer coisa com um sujeito que não consegue extrair o melhor do pior, auto-ironizar-se, tirar sarro das próprias mazelas, não se levar tão à sério,e, principalmente, não ser minimamente'cool'? Eu ia dizer legal, mas 'cool' é mais legal.
-Estamos por aí, na luta, disse.
É um modo estranho de tentar ser sincero sem ferir qualquer tênue possibilidade de quebrar a barreira entre a sinceridade mais intuitiva e um mínimo senso de amor-próprio controlado.
Muitas vezes esperar resposta de um estranho, leia-se, de um alguém próximo, mas não tão próximo, só faz reafirmar o peso que pretendemos creditar a essa resposta. Os amigos nos respondem através de um jogo de espelhos, e isso turva a resposta.
Estamos falando daquelas pessoas que nos viram sofrer em algum momento e que sabem, todavia, o peso de uma palavra mal-colocada, de uma visão sobre o exato instante de nossas colocações.
O estranho goza de uma autonomia que o permite questionar certezas com a leveza de quem sabe que pode atirar sem ser visto, sem ser acertado também. Paradoxalmente, o estranho, esse não-tão-próximo, goza de uma reputabilidade praticamente incontestável.
-Você tem agido de forma estranha. Um comentário que vindo de um amigo certamente me enervaria, passa sem dificuldade quando dito por você.
-Eu preciso me livrar da internet. Escrevi, mas depois apaguei.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

ando pensando na infinidade de coisas que preciso fazer por mim mesmo e na incalculável descoragem em que me encontro para resolvê-las.

sinto um desânimo fundamental.

deixa a casca romper.

sábado, 15 de setembro de 2012

a rotina faz a gente esquecer. isso é fato.

mas, sabe quando você é invadido pelo cheiro da sua casa, do seu canto de trabalho. pode ser a mistura do cheiro de café com o perfume das pessoas, inclusive o seu, ou o cheiro dos livros com o ar ambiente e o poliflor da mesa lustrada, e, de repente, as coisas parecem as mesmas coisas de sempre, só que mais interessantes, pois, por um momento, parece que não são suas, mas são.

absolutamente nada mudou, mas tudo adquire uma outra feição.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

me reservo o direito de pisar com um pé dentro e um fora.




terça-feira, 7 de agosto de 2012

-meu bem, o problema não sou eu, é você mesmo.
ontem tive uma discussão acalorada, e boa, com uma amiga sobre esse hábito dos artistas (músicos, na verdade) atenderem ao seu público após o espetáculo, recebendo-o em seu camarim.

minha amiga defende a posição de que seria falta de respeito do artista com o seu público, que isso soa como arrogância e falta de trato com o mesmo.

eu concordei em parte com ela. mas discordo, e sustento ainda minha discordância, que o artista não deve se sentir obrigado a nada. se ele estiver confortável nessa posição, beleuza. se não, não faça.

a discussão esquentou por conta de nossas posições sobre essa relação do artista com seu público fora dos palcos. eu sustento que é um fetiche essa coisa de falar com o artista e que ele deve ter a liberdade de, de repente, não ter o hábito de receber pessoas no camarim. pra mim seria desrespeito se ele subisse ao palco e não desse um pingo de  sua alma ali. mas fora do palco, ao artista, ao músico, não pode ser negado o direito de ser apenas mais um, o direito de não se sentir à vontade de receber uma pessoa no camarim. não vejo desrespeito nisso.

entendo que é legal pra caramba falar com o cara que você admira, sentir o 'feeling' dele após a apresentação, mas discordo a ela quanto à coisa de ser desrespeito não receber o público no camarim.

enfim, a questão é controversa. mas eu não curto ir falar com o artista no camarim. pra mim soa artificial e muitas vezes eu vou tomar uma atitude do artista naquele dia como sendo ele. 'fulano é assim...'. já não curto fazer isso nem com uma pessoa do meu lado, que dirá com um artista que admiro.

eu toparia sentar, tomar um café, tocar uma viola junto, caminhar e conversar, se não posso fazer isso, fico só com o som e sonhos.

soa distante e vazio?
pode ser, mas antes isso que proximo e artificial.

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

o movimento pode ser simples
mas o efeito tem que ser magistral.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

a coisa mais besta que tem é a gente achar, botar fé calculada em cima das coisas.

segunda-feira, 23 de julho de 2012

a ideia de abancar-se numa escrivaninha, mesa, seja lá o que for, para escrever, compor, trabalhar uma ideia é algo que me deixa inquieto.

no início eu fazia tudo direitinho, como alguns escritores famosos faziam, café aqui, papel, caneta, lápis, borracha, à vezes uma bebidinha espirituosa, tentei cigarro também...
guardava meus escritos de forma religiosamente desorganizada. soltos embaixo da cama, na mesa, no guardarroupa, mochila.
vieram o computador e os colegas que escreviam suas coisas diretamente nos editores de textos, e esses me diziam:

- é muito melhor.

de fato, é. há particularidades e há uma incrível sensação de 'efeito de publicação'. você consegue enxergar seu texto 'como se' ele estivesse sendo visto pelos outros. e isso traz uma coisa a mais para o processo. imprimir um texto seu é como vê-lo concretizado. a noção é boba, mas indesviável.

mas não vim falar disso. vim falar desse processo de escrita, de criação. certa vez disse que gosto de compor nos interstícios do dia.
no ônibus [uso celular e gravador, às vezes], fazendo o percurso de volta pra casa a pé, no almoço, vendo jogo de futebol ou filmes no 'mute' na tv.

sentado no chão, deitado no sofá da sala-de-estar enquanto as pessoas passam. tomando café, de preferência.
olho para minha escrivaninha, nem sequer leio mais abancado a ela. leio deitado na cama, no ônibus, etc.

parar para fazer algo tem sido torturante pra mim. gosto de compor sem notar que estou compondo. por isso prefiro esses instantes fugidios, nos quais não impera a prerrogativa: estou compondo.

mas, por meio dessa, venho reconhecer que também se faz necessário um momento para debruçar-se sobre seus trabalhos. olhar calmamente e até inquisitoramente para o monte de pedações, remendos, fios e conversar com eles.

confesso que não tenho tido tempo pra isso. venho compondo pedações de bifes que ainda não podem ser servidos.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

vira e mexe retornamos aos velhos sonhos.

a graça da coisa reside no fato de o sonho tornar-se realmente antigo, temporariamente esquecido.
dai então outros aparecem, inserem-se em nossas 'brand new lists' como sonhos adaptados à uma nova realidade.
mas esse são sonhos postiços, necessários, mas postiços, não aguentam o peso do tempo e logo, logo, quando a nova vida aperta, quando as novas realidades se mostram, eles cedem gentilmente seu lugar.

sonho bom é aquele que vai maturando dentro da gaveta, dentro de um envelope, dentro. dai ele ressurge e sua vida adquire um brilho maior, ocorre a sensação de encontrar-se dentro de uma missão de primeiro porte, secreta, importantíssima, e que revela segredos da humanidade.

voltar a sonhar os velhos sonhos é o último recurso dentro de uma sociedade que te ensina apenas a caminhar para frente. ninguém te ensina o quanto é saudável recuperar sonhos passados. pois, se você ainda não percebeu, agindo assim você estaria também revivendo cenas passadas, trazendo à tona sensações passadas, criando fantasmas.

acho bastante dificil ensinar a alguém que é saudável esse processo íntimo e intransferível de reviver sonhos passados e tudo dentro. mas o certo é que se faz necessário um gole de teimosia para agir assim. não há uma utilidade em reviver esse antiquário. não é produtivo de forma alguma. quem suporta sofrimento sem produção? sem uma mais-valia ao final?

a vontade de rever velhos sonhos surge depois de lutar com uma série de monstros internos e fantasmas.

eu não sei quais são os seus [sonhos], é possível que eles estejam tão conectados uns aos outros que, para dar certo, eles precisem ocorrer em cadeia.

um sonho antigo tornado presente é algo de uma fineza, um luxo, um requinte que vai além de tudo o que supostamente poderíamos ansiar.

e nenhum sonho é solitário.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

amor, paixão, essas coisas frívolas nos deixam muito criativos. assim como um café te deixa acordado, um chá te acalma, uma droga te excita e outra te expande em calmas ondas.

temporariamente.

tão logo o efeito passe e sobrevém uma concreta noção de um vazio te corroendo por dentro. alguns chamam de ressaca, larica, bad trip, angústia, falta, carência. o fato é que o corpo manifesta uma espécie de necessidade de mais, mais, mais.

lendo assim, bem por cima, sim, eu estaria comparando amor, paixão a certas drogas, até porque qualquer texto que você chame de seu diz muitas coisas à sua revelia,  mas careço da sua sede por perspectivas pra me fazer entender, se não melhor, pelo menos mais organicamente.

claro. algumas filosofias orientais, quase todas dentre as mais conhecidas, pregam esse princípio muito aparentado da roda de sansara. essa ideia de que tudo é saciedade e nada mais. você tem fome hoje e sempre terá porque é normal dos seres vivos terem-na. e isso nunca acaba. não é você quem decide se isso vai acabar, nem quando. você não é sujeito aqui, você está sujeito. e a vida virs isso, a eterna tentativa de saciar-se.

[quando tomados por amor, manifestamos uma incrível capacidade na manipulação da linguagem. não é que passemos a falar de forma mais elegante, ou mais requintada [falo de adornos que também fazem parte desse jogo...]. o amor nos faz entender de forma mais profunda o que é comunicar. quantas torções temporais, jogos culturais, relações inusitadas, simbologias mágicas não conseguimos criar quando estamos tomados...

todo amante é um linguista nato e inconsciente. ele se torna senhor da lingua que usa. imperador da linguagem. deus da comunicação. diria melhor, ele pode se tornar um, pois muitas vezes o amor nos embarga a fala, nos enclausura os afetos, fechando a possibilidade de ascenção, de sensação.

o amante diz, pensa, ou lida, ao menos, com essa pressuposição, de que às vezes não há palavras pra expressar tudo aquilo que...]

o amor nos torna, com igual paixão, políticos e apolíticos. tenebrosamente sensíveis ou ridiculamente insensíveis. insossos.

alguns ficam mais inteligentes e charmosos, outros têm sua identidade comida, seu cpf invalidado por se sujeitarem a todo tipo de invasão, sacrifícios, violências porque o amor é maior que tudo isso. ouço.

alguns fizeram do amor um mastro, uma bandeira. fincaram-na em terra firme e estão numa suspeita posição de quem joga cartas, porque é uma questão de sorte. presencio.

sábado, 7 de julho de 2012


muitas coisas não são simples de serem explicadas. creio que algumas nem são passíveis de. mas a coisa pode se dar no contexto da exemplificação, que é diferente de dar exemplos.
sabe quando a distancia entre teoria e prática, vida e poesia encurta tanto que podemos até ver a união fantasmagórica [pois nos assustamos com tal união...] e senti-la em uma pessoa?

o nome disse deve ser virtude. poderia ter dito, viver segundo suas crenças. mas não sei se é bem isso, pois virtuoso não me parece ser alguém certinho. virtude me parece mais uma visão ampla dentro de uma atitude precisa. é como se o virtuoso captasse uma energia vitalíssima e exemplificasse com uma atitude. isso é muito raro.

tenho conhecido e convivido com pessoas novas.
dois movimentos básicos acontecem nesse instante. ou uma intensa troca de experiências e afinidades em comum, ou uma diferença acachapante!
venho curtindo cada centímetro cúbico da vida quando passei a deixar as coisas acontecerem, não apenas na suposta realidade, mas dentro de mim.
gosto de relembrar sozinho certas conversas que tive, por mais traumáticas que elas sejam. tento reencená-las de forma a sentir e -re-sentir algo de prazer e dor nelas.
não sei se me torno um ser humano melhor, mas honestamente sinto que estou me movendo dentro de alguma ideia de experiência.

tenho conhecido pessoas assim. inteligentes, convincentes, mas com quem não compartilho quase nada do que dividimos. já me convenci e a cada dia mais um pouco que nunca estamos  discutindo coisas, mas apenas perspectivas. digo apenas, mas acho incrivel quando duas pessoas percebem isso claramente num diálogo.
é impressionante quando duas pessoas efetuam essa percepção em um diálogo. é como se o mundo expandisse um tiquinho.
confesso minha inépcia [gosto dessa palavra errada...] quanto a discutir com quem não consegue perceber que, ao final, tratamos de perspectivas e não uma coisa.
tenho receio de pessoas pragmáticas e práticas. tenho muito medo de pessoas que tratam qualquer teoria ou abstração como malandragem acadêmica para se dar bem numa conversa inteligente, ou como uma forma sacana de ludibriar outrem.

não me interessa se a maioria dos outros usam a incrível liberdade que a abstração e teorização podem oferecer como algo malévolo ou sacana. eu não quero te convencer, quero conversar. conversa infinita, diria blanchot.
um parágrado do livro 'cartão-postal- do derrida vale por quase todo o livro. lá ele diz que um bom leitor não lê um livro, mas se deixa ser lido por ele. a tempo, não há passividade nenhuma nisso.

penso o mesmo de uma boa conversa. mas, pensando bem, quem está ligando pra uma boa conversa quando há, latentemente, o medo de ser pego com as calças na mão, não é mesmo?

segunda-feira, 28 de maio de 2012

tenho conhecido novas e boas pessoas.
mas coisas chatas acontecem aí dentro....
esse é o meu grande medo.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

...no que dia em que eu puder viver só de sonhar, aí eu juro.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

aos 29 estou conseguindo conquistar uma sobriedade que tem sido muito boa de se sentir.
não virei monge, nem descobri o sentido da vida, muito menos as verdades prometidas. também não virei um adulto com 'a' maiúsculo, pelo menos é o que eu acho...
é toda uma conjunção de coisas que está me proporcionando sentir a mesma vida, as mesmas coisas, mas com um gosto diferente.
hoje, quando limpava minha guitarra tão sujinha e empoeirada, pensei em quanto tempo eu não parava pra tirar uma música nela. aprender a tocar algo bobo, mas prazeroso, só pelo prazer de ouvir o som dela que tanto gosto. [tenho uma relação anímica com meus intrumentos, ponho nome, pergunto como estão e peço desculpas quando deixo eles empoeirados e esquecidos no canto].

eu me sentia indigno de me proporcionar prazer sendo que nem tinha como me manter financeiramente aqui. socialmente me sentindo um inepto. assim me puno, mas nem sei mesmo o motivo pelo qual o faço. e nao me venham com 'que absurdo isso que você faz com você mesmo', a gente sempre se pune quando não damos certo.

eu tinha deixado minha vida toda pendurada num prego, esqueci dela, e irritado prossegui.
me engalfinhei comigo mesmo e apaguei por completo. às vezes faço isso, como um bicho que se finge de morto e depois retorna.

espero que daqui por diante esses momentos de ostra, que sempre existirão, sejam menores e mais eficazes.

estou mais tranquilo, porém, latente.

sexta-feira, 23 de março de 2012

amor é quando você decide fatiar a vida
e elege um pedaço como seu.

quinta-feira, 8 de março de 2012

gosto de estar envolvido e envolvendo.

sábado, 3 de março de 2012

solidão.

fiquei guardando pra falar disso, mas dava preguiça. pois diárias são as ocupações.

já saí muitas vezes da mesa do bar, da sala de aula, do ponto de ônibus, da sala-de-estar, do bate-papo formal ou informal, deixando a fortíssima impressão de que sou o 'do contra'.
discutindo sobre a função do palhaço, por exemplo, eu fui do 'contra'. disseram: 'o palhaço é aquele que faz rir'
discordei.
e sempre o farei caso perceba que essa discordância me soa internamente honesta e coerente, caso sinta que minha reflexão [e tudo que vem dentro de uma reflexão...] possa ser conversável, dialogável.
disse então que, de forma alguma, a missão do palhaço seria fazer rir. imaginem a cara das pessoas. concretizo aqui algumas possíveis sentenças que lhes ocorreram:

'do contra';
'que mania feia de discordar de tudo';
'ele pensa que sabe mais';
'chato'.

o fato é que você pode discordar de tudo, menos da perspectiva com a qual a pessoa olha para os fatos. em tempos como o nosso, criticar tal perspectiva equivale a destruir a própria fé da pessoa, essa nossa tábua de salvação frente ao caos digerível.
mas acho que é justamente a única coisa que se pode e deve criticar. não me sinto à vontade pra criticar suas preferências, seus gostos, sua banda, nem a sua visão política. são seus, ora!
mas posso criticar e ser criticado pela perspectiva com a qual eu ou você abraçamos nossas preferências, gostos...

um palhaço não é pra fazer rir. ele sabe disso.
há palhaços maquiados com mil cores, só com branco, sem maquiagem, figurnos extravagentes, um terno, um terno rasgado.
um palhaço existe pra demonstrar todo o ridículo da existência humana. ele constroi junto a seu público a percepção mais perfeitamente realizada de que essa existência não serve para nada, e assim pode até servir pra alguma coisa, entende?
e o riso, onde entra nisso? porque os palhaços causam riso. verdade.
mas causar riso não é a meta do palhaço. a meta é demonstrar o ridículo da existência humana e o riso não é causa, mas consequência nesse processo.
um palhaço que pretende apenas fazer rir por rir sabe que está sozinho, sabe que seu público não está com ele, não há comunhão. há um monólogo. e isso não tem graça.

rimos do palhaço que tropeça não uma, mas três vezes num mesmo obstáculo. rimos do palhaço que senta numa cadeira que supostamente era pra estar ali. rimos rimos de um palhaço numa repartição pública.

tropeçar três vezes num obstáculo, sentar numa cadeira que julgávamos estar lá, sentir-se perdido e inadequado num local não me parecem serem coisas engraçadas. [suponhamos que o palhaço esteja o mais limpo de maquiagem possível]. situações que podem soar até angustiantes pra certas pessoas. mas rimos, mesmo que o riso seja de pretensa superioridade ao julgarmos tudo aquilo muito bobo. há um riso, de deboche, mas há.
o objetivo de um palhaço é demonstrar, com ou sem palavras, esse ridículo de não termos certeza de nada, de que ninguém descobriu o segredo da vida e por isso somos todos ridiculamente iguais perante às situações, apesar de que nos diferenciamos por graus [sociais, sentimentais...]. o riso vem à reboque, porque rir é uma forma de sobrevivermos à essa existência. é tão necessário quanto alimento e agasalho.

tudo isso eu argumentei. e, claro, bocas e olhares virados contra mim. eu sempre levanto questões vencidas, é a minha natureza.
imagina, sustentar a opinião de que palhaço num é pra fazer rir, que o riso é a consequência da sua verdadeira função...porque, pra mim, alguns palhaços são mais geniais que muitos filósofos e pensadores, sou bem tranquilo quanto a isso...

e o que tudo isso tem a ver com solidão?
conheco raras pessoas que optam por criticarem a perspectiva e não as escolhas dos outros, me irmano logo com elas, pois sei que, com todo bem ou todo mal, não somos muitos.
me sinto só nesse sentido, pois não sou 'do contra', gosto de discutir, conversar perspectivas [além de outras bobagens, claro...], gosto de abalar e ser abalado.
gosto de ouvir o que o outro tem a dizer, mas quando é comigo sinto uma certa impaciência, como se eu estivesse sendo incômodo. vai ver é isso.
adoro ouvidos atentos e atenção carinhosa, pois é dando que se recebe. daí confesso meu encanto por quem, a seu modo, também torce a perspectiva. não me sinto doer nada, mas percebo que fui abalado em algum sentido e isso me encanta.
querer estar só, estar de bem consigo não é solidão. pois você sabe que pode ir até as pessoas e que elas também vêm. claro, há variações nesse movimento.

solidão é olhar pros lados, querer alguém, precisar de alguém e ninguém há.
essa cena, alias, ficaria muito bem na pele de um palhaço, não?

é esse o clima.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

hoje andei de bicicleta.
andei despreocupado, olhando pro tempo.
me senti guiando uma ferrari, mas estava só orgulhoso mesmo.
fazia muito tempo que não tinha essa sensação boa de guiar uma bike.

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

andei meio afastado do blog.
faz tempo que não escrevinho aqui. é que andei meio inquieto com tudo.
umas inquietudes fortes sobre o andar da carruagem, sobre caminhar na estrada, sobre o caminho, sobre as passadas, sobre o caminhante.
às vezes, à janela da condução, voltando de algum lugar, fico absorto na paisagem, respiro a brisa e me envolvo com aquele momento como se eu mesmo e os meus problemas não existissem.como se não fosse comigo. eu preciso disso, respirar esse ar, porque cansa muito coincidir consigo mesmo o tempo todo. é preciso se misturar ao ar de vez em quando.
repirando a brisa não há problema, não há outra coisa a não ser a incrível sensação de que não sabemos como a vida funciona.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

faz algumas semanas.

sensação de estranheza.

nada muito apartado do que já senti outras vezes. vez em quando me bate essa estranheza de estar habitando a terra, e, ao piscar de olhos, marte.

tudo assume uma estranheza regular.
o bom dia sai estranho, as passadas se desencontram e tropeço em obstáculos invisíveis.
pedras, pedrinhas, pedregulhos inobserváveis me descopassam a caminho do mercado.

o abraço sai enviesado, a tentativa de ser trivial falha, as palavras se enrolam.

os protocolos, meus deus, foram todos pro espaço.

hoje, feito ontem, procuro inspirar uma plenitude, esse aerosol contra toda a ânsia, com força e de uma vez só.
mas não é essa a posologia.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

ontem fui ao cinema tentar assistir 'a música segundo tom jobim', mas tudo que consegui foi comprar o livro 'ho-ba-la-la, à procura de joão gilberto', à venda na ante-sala do cinema.
um livro sensível e delicado de um fã [alemão] que, mesmo sabendo ser joão um misantropo, queria que ele tocasse a canção ho-ba-la-la em seu violão. e só.
nada mais. sem fotos. sem videos, sem paparicagem.

trata-se de um relato real, ele, de fato, veio ao rio tentar tal proeza, e como fã, foi tateando devagarzinho uma forma de chegar junto, sabedor de que seu ídolo é avesso a contatos com outras pessoas que não sejam miucha, otávio terceiro, cláudia e lulu.
ele vai desfilando um olhar tão profundo sobre a musica do joão, olhar que o autor, marc fischer, aprendeu com um oriental também fã de joão. [aliás, a galera oriental adora villa-lobos e bossa-nova...].

muitas vezes, por não gostar de ficar me explicando, não sou capaz de demosntar a profundidade e a carga que a música do joão carrega, a não ser tentando demosntrar, o que fica parecendo muito  piegas e auto-promocional também.
confesso que chorei. 
quando ouço joão é como se escutasse uma voz que sempre anseia por plenitude, uma perfeição absoluta que inunda tudo. romântica, por excelência, tenta encher a si e a quem ouve de uma sensação de absoluto.

um sentimento de que a música não pode ser menos do que seu corpo todo pede. do que sua existência lhe grita.
confesso que me identifico muito com joão.  uma identificação que só me veio muito tarde. identificação que veio não pela fama de gênio ou isso e aquilo, veio porque eu ouvi e me deixei ser abalado.
necessidade de aceitação e irascibilidade costumam andar juntas. chamam arrogância o resultado disso.

já disse pra amigos e pessoas a quem deposito um traço de confiança que as pessoas me cansam, não sei bem se porque não as suporto ou as amo demais, mas me sinto exausto na presença delas, como se fosse demais pra mim, beleza demais, demais vividez, muito pulso e pulsação. o que encanta e cansa.
comentei com tais pessoas que meu grande sonho é poder viver afastado de todos, tendo a opção de vê-las quando quisesse e pudesse e o coração suportasse. daí ontem lí essas palavras de marc sobre joão, e, honestamente, chorei na ante-sala do cinema:

"Dizem que odeia tanto as pessoas que não consegue suportá-las.
  Dizem que ama tanto as pessoas que não consegue suportá-las"

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

depois que brigamos
comprei umas cervejas
e assisti tv barata.
o espaço entre o taco e a bola.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

não existe encontro, seu moço, é tudo esbarrão.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

'você dá a impressão que estará sempre lá, independente do que houver'
temos que trabalhar isso aí, eduardo, pois essa ingênua impressão pode sugerir que não há limites para sua paciência. e sempre há um.
um grande amiga, um antigo amor me disse isso. e o que os amores antigos dizem a gente deve, pelo menos, prestar certa atenção.